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Professores: Eles querem transformar o País, mas a gente tem de deixar

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Que desafios diários existem em todas as profissões não é segredo para ninguém. Não ter os esforços reconhecidos e sofrer com a falta de comunicação entre os colegas, por exemplo, são pedras no sapato da carreira de muita gente. No entanto, quando esses obstáculos se acumulam a ponto de sufocar o ânimo e paralisar os bons resultados, é hora de soar o gongo para uma parada tática. No caso dos professores, o alarme já está quase ensurdecedor.

Se as dificuldades que impedem o desenvolvimento profissional são comuns em qualquer contexto de trabalho, imagine para os docentes, que têm diante de si a tarefa hercúlea de orientar, ao mesmo tempo, a aprendizagem cognitiva (desempenho escolar) e de aspectos mais subjetivos, como a formação para a tolerância e o trabalho em equipe (competências socioemocionais), das crianças e jovens.

Reconhecendo que sem os professores a Educação brasileira estará condenada à estagnação – e o País às crises cíclicas -, o Todos Pela Educação, em parceria com o Itaú Social, ouviu esses profissionais, para saber o que eles pensam sobre diversas dimensões da própria profissão. A pesquisa amostral “Profissão Docente” realizada pelo Ibope Inteligência em parceria com a Conhecimento Social coletou impressões de professores da Educação Básica de todo o Brasil, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, incluindo modalidades diferenciadas.

Os 2.160 entrevistados representam proporcionalmente a distribuição dos professores pelo País conforme etapa, dependência, Unidade da Federação, região e tipo de município. Ficou curioso? Então vem com a gente conferir quem são e o que pensam nossos professores.

Quem são eles

Sabe aquela imagem de mulheres que seguem a profissão docente por amor e que usam o salário apenas para complementar a renda? Esqueça. A maioria dos professores brasileiros são, de fato, professoras, mas elas enfrentam rotinas que exigem muita dedicação dentro e fora da sala de aula. Elas compõem 68% do corpo docente nacional e são experientes: a média de tempo de estrada é de 17 anos, sendo que 35% contam com mais de 20 anos de profissão. A rede pública de ensino é a realidade da maioria (87%).

Fora da escola, os desafios dessas profissionais não cessam. Assim como a maior parte dos professores são mulheres, grande parte deles (71%) também são “chefes de família”, isto é, levam para casa a principal renda do lar. Para 29% dos docentes, o valor recebido por seu trabalho no magistério precisa de complementação e acabam excercendo alguma outra atividade. Além disso, 30% precisam cruzar municípios todos os dias, já que moram e trabalham em cidades diferentes.

Valorização

Professores são como capitães: ao mesmo tempo em que fazem parte de um grupo, do qual dependem para obter sucesso, também desempenham uma função técnica e insubstituível, a condução a viagem. Da mesma maneira que o capitão de um barco, o professor é decisivo na travessia, mas não pode fazer isso sozinho. E os achados da pesquisa Profissão Docente indicam algo exatamente nesse sentido.

Segundo o levantamento, a profissão do professor não é “a opção que sobrou”. Grande parte dos professores declarou ter escolhido a docência devido à afinidade com a profissão, pela oportunidade de transformar a sociedade. E eles têm razão, uma vez que a Educação impacta transversalmente em todas as áreas da vida de um indivíduo e, consequentemente, do País.

Mas esse desejo de colaborar para a mudança e o exercício da profissão esbarram na falta de valorização. Não à toa, 49% não indicam a carreira docente para as novas gerações – 48% apontaram razões negativas relacionadas justamente à desvalorização e também devido à má remuneração (31%). Eles (67%) reivindicam que os professores sejam mais ouvidos pelos criadores de políticas públicas, pois não há envolvimento dos docentes nas decisões relacionadas a essas iniciativas (72%) e os programas educacionais como um todo não estão bem alinhados à realidade da escola (66%). Da mesma maneira, eles indicam que o preparo na graduação/licenciatura deixa a desejar quanto a temas relevantes para a sala de aula, como gestão da sala de aula.

O recado, portanto, é claro: para exercer com qualidade a profissão escolhida por prazer, o professores precisam de apoio e escuta. Assim como na pilotagem de um barco, dominar seus instrumentos, conhecer bem a rota e participar das tomadas de decisões são condições básicas para o trabalho desses profissionais.

+++EDUCAÇÃO JÁ! – A VALORIZAÇÃO E A PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE COMO POLÍTICA NACIONAL

Melhores condições de trabalho

A pesquisa também mostra que os docentes sabem que apenas um professor, um lápis e um livro não bastam para fazer a Educação acontecer, embora esses sejam partes importantíssimas do processo educacional. Mas são muitas as condições de trabalho fundamentais para que os professores consigam manter o barco da aprendizagem na rota.

O que se oferta como infraestrutura e material pedagógico nas escolas, por exemplo, fazem parte do pacote ideal para a Educação de qualidade. Os itens mais apontados como nada adequados pelos docentes são acesso à internet e recursos tecnológicos (60%) e recursos pedagógicos (53%). A maioria dos itens são, na verdade, avaliados como insatisfatórios, com destaque para questões como segurança (44%), número de alunos por turma (46%) e infraestrutura escolar (48%).

Colaboração

O processo pedagógico é tão complexo que pode até ser guiado por um professor, mas mobiliza uma rede escolar muito numerosa. Nesse sentido, os professores estão cientes de que eles não estão sozinhos! Entre os itens da escola apontados por eles como mais adequados, há um acentuado destaque para a colaboração com os colegas (45%) e o apoio dos gestores (43%). No entanto, é preciso mais colaboração, principalmente no que diz respeito aos aspectos relacionados diretamente ao ensino, como refletir sobre a maneira de ensinar (didática) e o planejamento pedagógico, além das especificidades de cada aluno.

Para os docentes, a situação não é melhor devido ao tempo apertado para tornar as trocas de experiência e apoio uma constante na rotina de trabalho. Algumas das funções que monopolizam o tempo são: corrigir provas e planejar aulas (42%), acúmulo de cargos e pouco tempo na escola (40%), e também aspectos ligados à falta de orientação e preparo dos gestores (falta orientação da secretaria (27%), os horários dos professores coincidem (27%), falta incentivo da gestão escolar (14%), entre outros ).

Na prática

Os dados refletem a realidade milhares de educadores e nós fomos às ruas descobrir quem eles são e o que pensam. Conheça as histórias das professoras Nayara, de português, e Yolanza, de Educação Física, e  Mara e Marlucia, respectivamente, professora polivalente e diretora escolar.