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Valorização docente: os professores merecem e o Brasil precisa

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Recentemente, o norte-americano Eric Hanushek, professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, esteve no Brasil para apresentar suas principais ideias sobre a relação entre Educação e economia. Na ocasião, ele falou amplamente da relação entre essas duas grandes áreas e destacou como a performance dos alunos em avaliações de larga escala influenciam no ganho real para a economia das nações, tese reconhecida no mundo todo. Além disso, em todas as falas, o pesquisador ressaltou o quanto a melhoria da Educação é inseparável da boa prática docente e, consequentemente, do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Ou seja, o segredo dos bons sistemas educacionais de países desenvolvidos está em seus professores – em como são atraídos, formados, valorizados e “aperfeiçoados”.

 A situação brasileira pode servir de exemplo para interpretarmos as teorias de Hanushek. Nossos dados educacionais mostram que ainda não conseguimos atrair os alunos do Ensino Médio com melhor desempenho para a docência; nossos cursos de formação inicial não preparam o futuro professor para os desafios que ele encontrará em sala de aula. Tais cursos sequer retêm os graduandos até o término: no País, de cada 100 ingressantes em Pedagogia, apenas 50 se formam e, destes, somente 27 seguem na carreira. Além disso, quando já estão inseridos no mercado de trabalho, os docentes têm de se desdobrar para dar conta de mais de uma escola (para compor a carga horária), ficando, portanto, sem tempo suficiente para se dedicar ao desenvolvimento profissional e ao trabalho colaborativo com os colegas.

 Se olharmos para os nossos vizinhos, como o Chile, perceberemos rapidamente que estamos indo na direção contrária às iniciativas que estão surtindo resultados. Lá, há 20 anos existem políticas com objetivos tais quais: atração dos alunos de Ensino Médio com melhor desempenho para a carreira de professor; elevação da régua de acesso para garantir que a profissão seja exercida por profissionais com alto desempenho; reestruturação dos programas de formação inicial e redesenho das carreiras de professores. Outro vizinho, o México, também conta com políticas de atratividade e reestruturação da carreira.

+++PROFESSORES E ESPECIALISTAS DISCUTEM A POTÊNCIA TRANSFORMADORA DA CARREIRA DOCENTE

 Diante da consciência do protagonismo docente no cenário educacional é que surge o Profissão Professor. Liderada pelo Todos Pela Educação, a iniciativa tem como objetivo constituir um conjunto de ações que, se realizadas concomitantemente, garantiriam professores com formação adequada, com salários competitivos e boas condições de trabalho. As evidências mostram que a reestruturação da carreira docente, com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino, é sinônimo de melhoria da Educação. Assim, o intuito é unir professores, poder público e sociedade civil em torno dessa ideia.

 Esse é o DNA da iniciativa: pautar-se em pesquisas e na consulta/participação direta de professores para desenvolver as propostas. Com o olhar focado no que as evidências científicas apontam, estamos falando em desenvolver políticas de atratividade; melhorar a estrutura e as práticas dos cursos de Pedagogia e de Licenciaturas; reestruturar os concursos de ingresso, o estágio probatório, a progressão de carreira e a formação continuada. Tudo isso alinhado a um consenso nacional do que se considera bom ensino e quais competências precisam ser desenvolvidas durante a carreira para se ensinar bem.

 Se por um lado temos grandes obstáculos para transpor nessa área, por outro, algumas redes públicas brasileiras já avançam no sentido de garantir uma nova carreira para os docentes e de prover o suporte necessário durante o estágio probatório e a formação continuada. É possível encontrar também no Brasil instituições de ensino superior que inovam na maneira de formar os futuros educadores. Infelizmente, essas iniciativas são ainda muito localizadas e não contam com o suporte necessário para a melhoria contínua. O Profissão Professor quer fortalecer essas práticas e transformá-las, através da negociação contínua com os governantes, em políticas de Estado. É possível sim garantir melhores políticas de valorização dos professores e, em consequência, aprimorar a Educação de qualidade com equidade. Nesse mês dos Professores, esses são os nossos desejos para todos eles e, claro, para o País.