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Análise: Indicador Criança Alfabetizada apresenta avanço importante – mas é preciso aumentar o ritmo de melhoria

Criança negra, com cabelo cacheado e curto, aparece em destaque, sentada em uma sala de aula bem iluminada. Ela está concentrada, escrevendo com lápis em uma folha de papel sobre a carteira. Ao fundo, outras crianças também estão envolvidas em atividades escolares, mas estão desfocadas. O ambiente transmite uma atmosfera de aprendizado e dedicação. Há materiais escolares como estojo, lápis e canetas sobre a mesa.

Os novos resultados do Indicador Criança Alfabetizada (ICA), divulgados nesta sexta-feira (11/07) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), demonstram um avanço importante. O país atingiu 59,2% de crianças alfabetizadas ao final do 2º ano do Ensino Fundamental em 2024 – um crescimento de 3,3 pontos percentuais em relação ao ano anterior. 

Das 27 Unidades da Federação, 18 apresentaram evolução no indicador de 2023 para 2024, enquanto 6 registraram queda em relação ao ano anterior1. Ainda entre os estados, foram 11 os que atingiram ou superaram a meta definida para 2024 — lembrando que o objetivo principal é alcançar ao menos 80% de crianças alfabetizadas até 2030. 

Vale destacar o caso do Rio Grande do Sul (RS), onde observou-se uma queda expressiva nos resultados (de 63,4% para 44,7%), que pode ser relacionada às graves enchentes que atingiram o estado no primeiro semestre de 2024. Trata-se de uma situação atípica, mas com impacto relevante nos dados nacionais. Sem esse fator, é provável que o país tivesse alcançado ou ao menos chegado mais próximo da meta nacional para 2024, que era de 59,9%. 

Os avanços nos resultados nacionais e em 2/3 dos estados reforçam a importância do fortalecimento do regime de colaboração entre governos estaduais e municipais que vem ganhando força no país. Neste sentido, ressalta-se o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA), instituído em 2023 pelo Ministério da Educação, que tem contribuído com este movimento. A política atua como um instrumento de indução à cooperação entre União, estados e municípios, com foco na construção de políticas territoriais e no alinhamento de estratégias voltadas à alfabetização na idade certa. 

O estado do Ceará – com uma política territorial de alfabetização consolidada – manteve a melhor taxa de alfabetização do país em 2024, com 85,3% das crianças alfabetizadas ao final do 2º ano. O resultado representa um crescimento em relação ao ano anterior e supera tanto a meta estadual quanto a meta nacional por mais um ano, permanecendo como uma referência no enfrentamento do analfabetismo. 

Por outro lado, também merece destaque o caso da Bahia. O estado é a Unidade da Federação com menor índice de crianças alfabetizadas, totalizando apenas 36,0%, além de estar entre os 6 estados que apresentaram uma queda nos resultados entre 2023 e 2024. Em julho de 2025, o estado ainda se encontra em processo de tramitação de um projeto de lei para instituir sua política de alfabetização em regime de colaboração. Esse atraso pode ajudar a explicar as dificuldades em alinhar e coordenar esforços para melhoria dos resultados no território.

Neste cenário, torna-se fundamental olhar com atenção para os resultados por estado e município, identificando aqueles que precisam de maior apoio técnico, institucional e financeiro, além de investigar os casos de queda nos resultados para agir com celeridade frente aos desafios. O ritmo de avanço precisa ser acelerado para que o Brasil como um todo tenha condições de alcançar a meta de 80% das crianças alfabetizadas até 2030.

Na divulgação dos resultados é relevante observar a ausência de desagregações que permitam uma análise mais aprofundada das desigualdades. A desagregação por raça/cor assim como por nível socioeconômico é central para a compreensão das disparidades educacionais e os efeitos sobre as trajetórias escolares e as oportunidades de aprendizagem. A omissão dessas dimensões limita a capacidade analítica do indicador, impedindo uma leitura mais acurada sobre como as desigualdades estruturais impactam os resultados.

Por fim, cabe destacar que ainda há uma agenda importante de fortalecimento e consolidação do Indicador Criança Alfabetizada, que em 2023 apresentou resultados consideravelmente diferentes da avaliação do 2º ano do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). A compatibilização dos resultados de avaliações estaduais diferentes, que baseiam os resultados do ICA, ainda precisa avançar e, portanto, as análises do ICA exigem cautela na elaboração de rankings e comparações entre os entes. Além disso, é necessário melhorar a qualidade das avaliações aplicadas, que muitas vezes medem apenas habilidades básicas de leitura e deixam de fora a escrita — apesar de a BNCC considerar que estar alfabetizado envolve tanto ler quanto escrever. Mesmo os itens de leitura aplicados costumam ser muito simples, o que limita a capacidade de avaliar com precisão o real nível de alfabetização das crianças. Fortalecer o indicador, aprimorar as avaliações e acelerar os avanços são passos essenciais para garantir o direito à alfabetização de todas as crianças brasileiras.

1 – O Acre (AC) e o Distrito Federal (DF) não realizaram a avaliação estadual censitária em 2023, o que impossibilitou a definição de metas e a realização de comparações em 2024. Já Roraima (RR) não realiza avaliações externas censitárias na etapa.

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