Professores, escolas e sistemas educacionais: olhem mais para os vizinhos e aprendam uns com os outros, afirma diretor da OCDE
Em março, logo no início das paralisações das atividades presenciais no Brasil em combate à pandemia do novo coronavírus, metade dos estudantes do mundo já estavam sem aulas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). De lá para cá, muitas foram as respostas à situação fora do comum: alguns países controlaram suas curvas de contágio e reabriram as escolas, enquanto outros ainda lidam com o distanciamento social e suspensão do ensino presencial.
Para falar sobre os impactos da Covid-19 no ensino brasileiro e do mundo, o Todos Pela Educação abriu a série de webinários do encontro online “A Educação Básica no novo cenário: adaptação e transformação” com a participação de Andreas Schleicher, diretor de Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Marcelo Cabrol, gerente do Setor Social do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos. O evento ocorreu entre os dias 22 e 26 de junho, confira nos links abaixo os debates dos outros dias e, a seguir, as discussões da abertura do encontro.
5° dia – O papel da educação na reconstrução do Brasil
4º dia – Tecnologia, valorização dos professores e financiamento mais justo
3º dia – A importância de um novo Fundeb no contexto da pandemia
2º dia – Os desafios da gestão pública no presente e futuro
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Além de abordar os diversos desafios e aprendizados de diferentes países frente à pandemia no painel “Qual o impacto da Covid-19 na Educação do Brasil e do mundo?“, o encontro virtual também marcou o lançamento da parceria do Todos Pela Educação com a OCDE, que resultará em um relatório analítico com base nos dados da avaliação internacional Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), a ser publicado no fim deste ano.
Veja abaixo os destaques das falas dos palestrantes:
- Andreas Schleicher – OCDE
“A Educação vai sofrer com a falta de recursos, por isso, não podemos apenas esperar mais dinheiro – temos que pensar como nós podemos reconfigurar os espaços, as tecnologias, o tempo a uma forma que possamos mudar como entregamos Educação. Como integrar o mundo virtual e real de modo sustentável?”
“Nessa crise, a Educação se tornou um projeto da sociedade como um todo. Agora, os pais entraram nessa equação e estão descobrindo que os professores têm uma tarefa muito árdua.”
“Alguns países estão saindo da crise com sistemas educacionais mais fortes, enquanto outros têm sistemas destruídos. A questão que está se mostrando relevante é, portanto, resiliência. A natureza recompensa quem é mais resiliente e consegue se adaptar.”
“Estamos todos diante da mesma crise, mas cada localidade está encarando a situação de modo diferente. Eu espero que os professores, escolas e sistemas educacionais olhem mais para os vizinhos e aprendam uns com os outros.”
“A pandemia colocou a Educação diante de muitos desafios, mas também abriu oportunidades. A oportunidade é reforçar a iniciativa e capacidade de liderança em todo o sistema educacional, abrindo mais espaço para os alunos serem mais proativos.”
- Marcelo Cabrol – BID
“Não podemos pensar na situação atual como algo que não acontecerá novamente. Precisamos preparar os sistemas educacionais para fechamentos emergenciais durante o contexto da pandemia.”
“Ao iniciar a pandemia, muitos disseram que a crise forçaria uma mudança obrigatória na Educação e que não haveria retorno. É perigoso pensar desse jeito, pois gera a sensação de complacência. Talvez outros setores não serão mais os mesmos, mas, no caso da Educação, não dá para garantir que ela não será um redesenho do que ela era antes.”
“Com os impactos financeiros da pandemia, proteger o investimento na Educação é ainda mais importante. Caso contrário, não teremos nem um novo normal na Educação.”
“Se é verdade que temos um período longo de dificuldades financeiras, a questão que se coloca é: quais são as outras políticas sociais necessárias para sustentar essas famílias e as crianças para que eles não saiam da escola. Assim, os sistemas de ensino enfrentarão um crescimento no abandono escolar. Para evitar essa fatalidade, as escolas terão de ser muito proativas para se conectarem às políticas sociais.”
“É preciso cuidado ao abordar a oportunidade de “aceleração” frente a este cenário. Porque o ritmo com o qual estamos transformando a Educação na América Latina e Caribe antes da crise não era suficiente. A gente precisa falar em transformação na Educação, essa é a oportunidade a nossa frente”.
- Priscila Cruz – Todos
“O Todos Pela Educação vem verificando desigualdade na forma de reação dos estados, municípios e escolas à pandemia. Aqui vemos a falta que faz uma coordenação nacional nesse cenário. Felizmente sociedade civil e localidades estão reagindo e criando um trabalho articulado, a fim de garantir uma Educação de qualidade para todos.”
“É pela Educação que vamos reconstruir o País. Essa pandemia tem colocado um peso enorme na Educação Básica, principalmente com a suspensão das aulas presenciais.”
“O momento é oportuno para se discutir a ideia de uma governança global para a Educação. Precisamos trabalhar juntos, e essa pode ser a semente para algo novo e mais impactante na área.”