Quando o salário de professor não paga as contas
De Santo André, no ABC paulista, onde mora, até a Vila Industrial, na zona Leste paulistana, onde fica a Escola Municipal de Ensino Fundamental Altino Arantes, onde trabalha, Yolanda Maza leva mais de uma hora para chegar, de carro. Professora de educação física, ela tem 12 turmas, entre 4° e 9º anos, incluindo as de treinamentos específicos (tênis de mesa, handebol e voleibol). Yolanda também é personal trainer, em condomínios e parques, e no fim da tarde parte para atender seus clientes nos bairros de Higienópolis e Ipiranga, nas regiões central e sudeste de SP, respectivamente. Seu dia de trabalho começa às 6h30 da manhã e acaba por volta das 22h, quando chega em casa. Às vezes, segue por mais algumas horas: “Em tese, tenho três horas-aula da escola que são destinadas a planejamento e correção de trabalhos, mas é impossível dar conta disso para todas as turmas nesse tempo, fora as tarefas burocráticas que temos de cumprir. Acabo fazendo em casa”, afirma.
Aos sábados ela também trabalha, na escola, e sobram os domingos para fazer os cursos de formação. Boa parte de suas refeições são lanches, que come no carro. “Prego a qualidade de vida, a prática de esportes, a boa alimentação, mas na minha própria rotina é muito difícil seguir tudo isso”, lamenta ela, que precisa manter as duas atividades para totalizar a renda mensal, pois o salário é baixo.
Como acontece com muitos professores, Yolanda encara essa rotina atribulada também porque tem afinidade com o ensino.
Desde criança gosta muito de esportes e foram os professores de educação física — incluindo sua própria mãe — que sempre a inspiraram profissionalmente. Mas se antes desejava ter as turmas de alunos que agora tem, hoje ela sonha com uma jornada de trabalho de oito horas ganhando um salário digno para que sobre tempo para treinar, dormir e se alimentar adequadamente.
Yolanda faz parte dos 29% dos professores que exercem uma segunda atividade para complementar a renda. O dado é da Pesquisa Profissão Docente, divulgada pelo Todos Pela Educação em parceria com o Itaú Social. Para conhecer essa e outras impressões dos professores sobre o cotidiano docente acesse.