Melhorando pela continuidade: evolução da aprendizagem em Goiás em 5 pontos
Em políticas educacionais, a mudança de um gestor de Educação ou uma ação pontual não são capazes de manter a aprendizagem dos alunos crescendo. Pelo contrário: quanto mais fragmentadas as iniciativas e fragmentadas as tomadas de decisão, maiores as chances de ineficiência e desperdícios. Isso porque, diferente das partidas de futebol em que uma substituição pode mudar o placar, na área educacional, mudanças pontuais não respondem aos desafios complexos do processo de ensino e aprendizagem. Uma Educação de qualidade passa, necessariamente por um longo caminho de continuidade e aprimoramento de iniciativas – é o que indicam os resultados, como os dados de aprendizagem do estado de Goiás.
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No último levantamento da Meta 3 do Todos Pela Educação – todo aluno aprendendo o adequado ao seu ano -, o estado foi destaque entre os que mais avançaram nos índices de aprendizagem dos últimos 10 anos em todas as etapas do Ensino Básico (veja tabela abaixo). Conversamos com os quatro últimos secretários estaduais de Educação goianos e descobrimos que a gestão educacional teve um princípio em comum na última década independentemente dos partidos: Educação precisa ser política de Estado, e não de governo. Confira em 5 pontos quais propostas levaram os goianos a melhoria consistente através dos anos.
1) Currículo desde 2012
Quando o Plano Nacional de Educação (PNE) foi sancionado em Brasília, prevendo a criação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Goiás já entrava no terceiro ano de aplicação de um currículo estadual de referência para as unidades educacionais.
A definição de conteúdos mínimos para a rede estadual fez parte do Pacto Pela Educação, instituído em 2011, na gestão de Thiago Peixoto. A ideia, no entanto, não era nova. Milca Pereira (secretária entre 2006 e 2010) já pensava na reorientação curricular durante sua gestão. Derivativos importantes vieram dessa iniciativa, como pontua a ex-secretária estadual de Educação Raquel Teixeira (1999-2001 e 2015-2018). “A partir do currículo criamos um sistema de avaliação bimestral com material estruturado e uma tutoria pedagógica baseada neste material e na análise das avaliações”, explica.
2) Tutoria pedagógica de professores como Formação Continuada
Outra parte fundamental no mosaico de ações de longo prazo adotadas na Educação goiana foi a tutoria pedagógica. Desde a gestão de Milca, duplas de professores atuam em sala de aula e foi dessa base que Peixoto remodelou a prática e criou o programa sobre o assunto. “A escola estava perdendo tempo em discussões que não tinham a aprendizagem como foco, por isso, criamos a ‘Tutoria Pedagógica’. Fizemos avaliações das dificuldades de cada escola e definimos avanços em aprendizagem. Eram, à época, 300 professores altamente qualificados que davam apoios específicos”.
3) Acompanhar é preciso: diagnóstico e mais diagnóstico
Em Educação, as avaliações são o termômetro do que precisa mudar. Pensando nisso, quando assumiu a pasta em 2011, Thiago Peixoto percebeu que não poderia se limitar às provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), realizadas a cada dois anos. “Ao instituir avaliações bimestrais foi possível dar respostas mais rápidas para as dificuldades identificadas em cada escola”.
Raquel Teixeira deu continuidade à essa cultura que valoriza as evidências por meio da Avaliação Diagnóstica Amostral (ADA). “De acordo com o resultado da avaliação, a equipe pedagógica da secretaria estadual tem uma semana para elaborar uma série de sugestões para a escola. Além disso, criamos um subdescritor que identifica a gradação das dificuldades de aprendizagem”, comenta a ex-secretária.
4) Professores que aderem ao material didático
Com base nas avaliações recorrentes e nos dados daí resultantes foi possível desenvolver um material pedagógico levando em conta tanto o currículo quanto às necessidades específicas de aprendizagem da rede, assim nasceu o Aprender Mais. “O material é bimestral e estruturado para professor e aluno. Mesmo sendo opcional, os professores adotam porque entendem o propósito”, conta Raquel.
Pouco a pouco, a rede estadual goiana construiu uma cultura que se importa com os resultado foi uma conquista de longo prazo. Vanda Batista, secretária sucessora de Thiago Peixoto em 2014, explica o efeito que notou durante a continuidade do Pacto Pela Educação. “Acho que foi um divisor de águas no estado. À época da implementação da iniciativa houve rejeição. Com o tempo, porém, os professores perceberam que o acompanhamento mais de perto pela secretaria também era apoio e não apenas cobrança”.
5) Cultura de corresponsabilidade
Raquel enfatiza também que outra mudança importante foi a formação de gestores para lidar com os dados de aprendizagem. “Fizemos formação de um ano e meio com eles. Ensinamos ao gestor trabalhar com dados, olhar para os resultados ,a partir disso, construir um plano de ação para acompanhar o desdobramento a cada dois ou três meses”, explica. “Goiás tem hoje uma cultura de trabalhar com evidências e ter foco na aprendizagem. Há uma preocupação de transformar o conhecimento em mecanismos de apoio ao professor e ao aluno”, garante a educadora que deixou a secretaria em 2018.