Quebra-cabeça do Magistério
Professores bem preparados e motivados são a principal condição para o sucesso educacional de um país, é o que indicam especialistas e estudos da área educacional. À https://agenciahstkatendimento.monday.com/boards/266908617/pulses/266908719medida que os professores são valorizados – bem formados e apoiados em sua prática pedagógica -, melhor é a aprendizagem das crianças e jovens, pilares do desenvolvimento socioeconômico e cidadania do futuro próximo.
A agenda suprapartidária Educação Já!, coordenada pelo Todos, destaca os professores como catalisadores do avanço na Educação Básica e uma proposta para a valorização da carreira docente está entre os sete pilares para dar um salto na qualidade do ensino elencados pelos Todos. Mas por onde iniciar uma mudança rumo à valorização dos professores? Entendendo que esse é um quebra-cabeça de muitas peças. Informado pelas evidências e pelos casos de sucesso no Brasil e nos países de melhor desempenho no mundo, o Todos aponta quais são as peças fundamentais de uma reflexão sobre a profissão: atratividade, formação inicial, formação continuada e condições de trabalho e carreira.
Três educadores compartilham o que pensam esses aspectos fundamentais. Confira.
Pacto nacional pela valorização
Para Alexsandro Santos, professor da Faculdade do Educador (Feduc), o cenário desafiador do Magistério brasileiro se deve a um histórico complexo, envolvendo altos e baixos no prestígio da profissão, questões salariais e expansão da formação sem cuidado com a qualidade. Um quebra-cabeça que exige a visão do todo para ser solucionado. “Para reconstruirmos o prestígio social do professor e tirar o Brasil da condição de lanterna na valorização desse profissional, é preciso uma política sistêmica. Isto é, não existe uma ação isolada. Precisamos de um pacto nacional pela valorização do Magistério que inclua quatro pontos: melhoria salarial, melhoria nas condições de formação inicial e continuada dos professores, melhoria nas condições de trabalho e no recrutamento dos futuros professores”, defende.
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Ana Lúcia Rodrigues Souza, professora aposentada da rede municipal de ensino de São Paulo, aponta que essa mudança de status trará benefícios na sala de aula. “Tenho convicção da importância dos alunos como protagonistas do processo educativo. Mas isso não vai se tornar uma regra geral enquanto o professor não se sentir valorizado; isto é, não enxergar sua importância nessa trajetória e é a sociedade quem tem que construir isso”.
Atratividade e condições de trabalho
A atratividade é, segundo os educadores e especialistas, aspecto central para a construção de uma nova história para a profissão que forma todas as demais. “A profissão docente é muito complexa e muito exigente. Precisamos dar à sociedade a mensagem de que para se candidatar a uma carreira docente, o aluno tem de vir de patamar acadêmico razoavelmente bom”, indica Alexsandro sobre a importância de a seleção de docentes exigir um patamar mínimo de desempenho dos futuros professores.
Nosso cenário complexo de atratividade é destacado também por Ivan Gontijo, coordenador de projetos do Todos e professor de matemática. No Brasil, há muitos estudantes se formando na área da Educação, havendo, portanto, interesse; mas são majoritariamente alunos com os menores desempenhos no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), quadro muito diferente dos países que se destacam nas avaliações de aprendizagem. “Cerca de 20% dos alunos do Ensino Superior estão em cursos voltados à docência, o que mostra que a profissão é capaz de atrair. O desafio é que não estamos atraindo os estudantes de melhor desempenho: sete em cada 10 alunos que entram em Pedagogia têm nota menor que a média do ENEM”, explica. Para Ivan, o Brasil vai na contramão dos países de melhor desempenho que selecionam seus melhores alunos para educar as futuras gerações. “Além de melhorias na carreira como um todo, são necessárias políticas específicas de atratividade para alterar esse cenário grave.”
Inseparável da temática da atratividade, e centro das atenções nos debates atuais sobre professor, a remuneração é outro aspecto fundamental em uma política de valorização da profissão. Ivan aponta, contudo, que é preciso superar os simplismos e avançarmos para análises que combinem salários, carreira e atuação docente. “Aumentar os salários é uma medida importante, sem dúvida. Contudo, apenas isso não resolve todas as questões da carreira docente. É necessário que o aumento na remuneração esteja atrelado a grandes melhorias na formação, tanto inicial quanto continuada. Além disso, é necessário que os professores, na medida em que progridem na carreira, adquirem novas funções na escola, tais como ser tutor de professores mais novos e coordenador de área.”
Ana Lúcia, por sua vez, atribui a grande dificuldade de atração a dois pontos principais que vão além das políticas salariais: a falta de prioridade dada à Educação no geral e as novas ofertas de trabalho muito ligadas à inovação. Assim como Alexsandro, ela destaca a complexidade da profissão. “Acho que há hoje a oferta de outras profissões que exigem menos envolvimento. Na Educação, é preciso estar de corpo e alma, se não for assim, seus alunos não progridem”.
Mais conhecimento dos desafios reais
Com 31 anos de dedicação à área, Ana Lúcia reflete o que apontam os estudos mais recentes sobre a formação docente: falta maior aproximação da realidade da sala de aula com a formação teórica dada na universidade. “Cursei Magistério nos anos 80, havia equilíbrio entre a parte teórica e a prática – o estágio começava desde o primeiro ano. Eu achei o curso muito bom”, relembra. Mesmo assim, no dia a dia, surgiam desafios novos que exigiam reciclagens e estudos pessoais. “Por exemplo, na sala de aula, por melhor que tivesse sido minha formação, apareciam os alunos que não conseguiam se alfabetizar no tempo adequado”, conta a docente que trabalhou com recuperação de aprendizagem por 10 anos.
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Alexsandro pontua a importância dessa instrumentação dos professores para refletir sobre os desafios múltiplos que a natureza do ensino impõe. “Não basta formar um professor com erudição teórica que não consiga transformar isso num conjunto de competências práticas para o exercício da docência. Essa é uma mudança que a gente tem que fazer”, critica.
Para irmos em direção a esse cenário ideal, complementa Ivan, é fundamental olhar para os estágios obrigatórios. “De fato, a teoria e a realidade das escolas estão muito distantes. Os estágios supervisionados são um momento central para aproximar esses dois mundos, mas eles costumam ser desestruturados e pouco efetivos. Ao lado disso, há uma forte expansão da formação de professores à distância, que aprofunda esse desafio de proximidade em vez de resolvê-lo.”
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