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Políticas para nós e por nós

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Em tempos em que se fala tanto em protagonismo do aluno, é importante lembrar que os professores também são alunos. E para que as formações continuadas oferecidas pela secretarias de ensino deem resultados, é fundamental que as demandas deles sejam ouvidas previamente. Mas esse processo, bem como o de elaboração de outras políticas públicas educacionais, ainda acontece majoritariamente “de cima para baixo”.

Cria-se uma cultura de não-participação e os professores ficam tímidos mesmo quando abre-se espaço para que eles estejam presentes”, afirma Mara Mansani, de 48 anos, professora há 32, que pela primeira vez participará da elaboração de uma política pública. Ela trabalha com alfabetização, hoje como professora polivalente dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em duas turmas, sendo uma da Escola Estadual Professora Laila Galep Sacker, em Sorocaba, e outra da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Silvia Haddad, em Salto de Pirapora, ambas cidades do interior do Estado de São Paulo.

Essa ausência de atores tão importantes para o processo gera, no caso de formações continuadas, por exemplo, cursos que não correspondem às necessidades reais desses profissionais. Mara, que escreve em um blog da revista Nova Escola, surpreendeu-se quando soube que o seu texto mais acessado era o que mostrava, passo a passo, como preparar um plano de aula. “É algo muito básico, um alerta, que denuncia que a formação, tanto a básica quanto a continuada, está muito ruim. O professor precisa ser ouvido para que essa realidade se transforme”, afirma ela.

Marlucia Brandão, diretora da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Boa Vista do Sul, em Marataízes, interior do Espírito Santo, participou ativamente da construção da Base Nacional Comum Curricular de Língua Portuguesa, área em que se formou e se especializou. Ela passou quase 30 dos seus 50 anos de idade em sala de aula, e toda a experiência adquirida validou suas proposições no processo. “O professor precisa participar, opinar. No caso das formações continuadas, eu só acredito nas que são elaboradas com conteúdos relevantes para nós professores. É um direito nosso”, afirma.

A escola em que Marlucia trabalha tem 345 alunos distribuídos em 16 turmas de Educação Infantil e Anos Iniciais, com altos índices de reprovação de alunos. Desde que ela assumiu a direção, no ano passado, tem se dedicado intensamente a transformar essa realidade, fazendo da escola um espaço prazeroso para os estudantes, um lugar onde eles queiram estar – e os resultados já começaram a aparecer. “Para isso, os alunos precisam se sentir protagonistas, serem parte do processo”. Se é assim com os estudantes da Educação Básica, também precisa ser assim com seus docentes.

Mara e Marlucia fazem parte dos 67% de professores que não se sentem ouvidos durante o processo de elaboração de políticas públicas educacionais. O dado é da Pesquisa Profissão Docente, divulgada pelo Todos Pela Educação em parceria com o Itaú Social. Para conhecer essa e outras impressões dos professores sobre o cotidiano docente acesse.


1 Comentário para “ Políticas para nós e por nós”

  1. Boa tarde a todos faço minhas as palavras do governador do RS, “precisamos de um ministro da educação com capacidade” de lançar novas políticas públicas que garantem a inclusão de todos os cidadão em escolas de qualidade mesmo em tempo de pandemia.