“O Brasil não pode mais negligenciar o seu futuro”, diz Eric Hanushek
No Brasil desenvolvimento é igual a crescimento que, por sua vez, é sinônimo do desenvolvimento de habilidades dos habitantes de um país. A premissa pode parecer complexa à primeira vista, mas Eric Alan Hanushek, professor, pesquisador e economista da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, explicou como a Educação pode ajudar a mexer nos ponteiros Econômicos de um País durante o primeiro debate desta terça-feira (25) do Educação 360, no Rio de Janeiro. O evento é um encontro internacional que promove discussões diversas sobre o tema, e é organizado pelos jornais O Globo e Extra, com apoio do Todos Pela Educação.
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Para Hanushek, o Brasil ainda tem espaço para aumentar o acesso à escola, especialmente no Ensino Médio, onde há altas taxas de evasão. No entanto, matricular todas as crianças e jovens nas unidades de ensino não fará diferença se essas escolas não estiverem ensinando. “É preciso que as pessoas aprendam e desenvolvam habilidades cognitivas nas escolas para que ela tenha algum efeito”, afirmou. “É por isso que é importante controlarmos os dados educacionais pelos resultados de aprendizagem, e não de acesso”.
E é exatamente com as informações de desempenho dos alunos em mãos que o economista conseguiu calcular o efeito da melhoria do desempenho de alunos e alunas em exames como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), na economia dos países. As pesquisas de Hanushek mostram que quanto mais elevadas as taxas no Pisa, maiores as taxas de crescimento econômico de uma nação, ou seja, a pontuação no exame pode explicar a variação de taxas de crescimento econômico ao redor do mundo.
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“O fato de os resultados do Brasil no Pisa estarem caindo é perigoso para a economia brasileira”, alertou o professor, mostrando o desempenho do País na avaliação. “O Brasil está em meio a uma grande discussão sobre eleições e este é um momento crucial para entendermos que não há como o País melhorar se não for com Educação”, disse.
Salário e produtividade
Hanushek afirma que, mesmo que não haja uma grande mudança nas escolas brasileiras, haverá crescimento econômico porque o País tem meios para isso. No entanto, se reconhecermos o valor econômico de uma reforma educacional, podemos esperar resultados bem melhores. Isto porque se o sistema educacional brasileiro alcançar resultados semelhantes, por exemplo, ao do México no Pisa, que não está entre os países com melhores desempenhos mas tem dados superiores aos do Brasil, tal melhoria significaria um Produto Interno Bruto (PIB) 5,6% mais elevado em média a cada ano, pelo restante do século XXI. “Isto significa salários 11% maiores para todos os trabalhadores, um número bastante significativo. E só fiz uma pequena mudança, que foi elevar os alunos brasileiros ao nível dos mexicanos, que nem no topo estão”, lembrou o economista.
Segundo os cálculos do professor, se o Brasil matriculasse todos as crianças e jovens na escola, e melhorasse seu desempenho, desenvolvendo habilidades cognitivas destes alunos, o aumento seria ainda maior: um PIB per capita 16,1% maior, em média, até o fim deste século, e salários 30% maiores, uma vez que a força de trabalho seria maior e ainda mais qualificada. “O que estou fazendo é uma projeção, mas já mostram grandes diferenças. O aumento é enorme, inacreditável. O valor de melhorarmos as escolas é muito grande”, explicou Hanushek.
Investimento
Os dados apresentados pelo pesquisador durante sua fala mostraram que investir mais em Educação não traz, necessariamente, melhoria nos resultados de aprendizagem dos países. A Polônia, por exemplo, aumentou consideravelmente o investimento na área e conseguiu bom desempenho em leitura no Pisa. Por outro lado, Irlanda e Austrália investiram bastante e não tiveram a mesma sorte: enfrentaram queda na pontuação na mesma área de conhecimento da avaliação internacional.
“Por isso, não podemos simplesmente abrir o Tesouro do Brasil, jogar dinheiro nas escolas e esperar que o desempenho delas melhore””, afirmou Hanushek. “Não há respostas simples nem formas fáceis de resolvermos isso.”
Mas o que pode ser feito?
De acordo com Hanushek, não há melhoria na Educação e, consequentemente, na economia de um país, sem que haja melhoras na qualidade da atuação docente e da gestão escolar. Além disso, o economista destacou a importância de se ter um plano estratégico e um compromisso a longo prazo com a melhoria das escolas.
“A solução não é simplesmente investir um pouco mais ou muito mais, ou reduzir o número de alunos por sala. É necessário um plano consistente com comprometimento contínuo, porque se adiarmos isso, daqui a 25 anos o Brasil terá a mesma cara de hoje, e não será desenvolvido”, pontuou ele.
Para complementar a fala de Hanushek, a presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, apresentou o Educação Já, uma iniciativa liderada pelo movimento que traz uma proposta de estratégia nacional para a Educação Básica do Brasil.
“Vivemos uma crise de aprendizagem, sendo que a aprendizagem traz benefícios como mais competitividade e crescimento do País, mais bem-estar social e prosperidade ao longo da vida”, explicou Priscila. “Nem a nossa elite educacional atinge níveis razoáveis de aprendizagem comparados a outros países, como é o caso do Vietnã”.
Para ela, o Brasil vem errando sistematicamente em não priorizar a Educação e deixar outros assuntos e reformas serem mais importantes no debate público e nas políticas públicas. “É o imperativo ético da nossa geração mudar a qualidade da Educação brasileira. Temos dados e diagnósticos suficientes para isso – e para criar uma indignação muito maior em relação às crianças e aos jovens que não aprendem”.