Tempo de leitura: 3 minutos

Formação profissional ou superior: o que (não) vou ser quando crescer

|

Enquanto o mundo inteiro está de olho no futuro e, por isso, apostando nos jovens, no Brasil, a esmagadora maioria das juventudes, após formação, sai da escola direto para uma trajetória de ansiedades e obstáculos: poucos conseguem ir para a universidade, alguns optam por cursos técnicos e o restante acaba não ampliando a escolaridade pois deve dar conta do trabalho, família e outras demandas.

Porém, sabe-se que, sem preparo profissional específico, grande parte desses jovens seguirá para o mercado de trabalho informal ou para funções mal remuneradas. Muitos sequer encontrarão um trabalho, como mostrou o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o tema: a média de jovens entre 18 e 24 anos desempregados é o dobro da média geral da população.

Tudo isso está por trás dos debates sobre a formação profissionalizante e a Educação Superior no Brasil, o que seria uma falsa oposição para especialistas no tema, como Ana Inoue, Carlos Artexes, Dante Moura e Felipe Morgado, que participaram nesta segunda (24) do Educação 360, um encontro internacional realizado pelos jornais O Globo e Extra, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro (RJ), com o apoio do Todos Pela Educação.

De acordo com eles, o Brasil tem colhido a marginalização dos cursos profissionalizantes e, em consequência, empurrado muitos jovens para a exclusão social e os distanciado de seus sonhos.  “Apenas 17% dos jovens estão no Ensino Superior. Para os outros 83%, o que temos a oferecer? Nada. O Ensino Médio é a última política de abrangência nacional que chega à maioria dos jovens. Isso é de tirar o sono”, pontuou Ana Inoue, assessora de Educação do Itaú BBA durante o debate.

Carlos Artexes, professor e diretor nacional do Serviço Social do Comércio (SESC), criticou a perspectiva que coloca o ensino profissionalizante como mera ferramenta a favor da empregabilidade. “Profissionalizar as pessoas não acabará automaticamente com o problema do desemprego. Esse é um mito que precisa acabar”, afirmou.

Para Ana Inoue, o Ensino Profissionalizante deveria ser tratado como uma modalidade complementar à Educação Básica e Superior, e não como uma oposição. “O ideal é alinhar cursos técnicos à Educação Básica e à Superior e não colocá-los em confronto. As lacunas entre essas modalidades só prejudica os jovens. Quando não damos a eles nenhuma perspectiva, estamos desperdiçando a inteligência, a criatividade, tudo desses jovens”, ponderou ela, que destacou as experiências positivas de formação profissional realizadas no estado da Bahia, que oferece uma formação profissional em módulos ao longo do Ensino Médio, integrada a tecnólogo e superior, e não como um apêndice.

+Conheça o “Juventudes pela Educação”, propostas para fortalecer a participação dos jovens na Educação

Reforma do Ensino Médio

O itinerário profissionalizante está previsto na “reforma” do Ensino Médio, aprovada pelo presidente Michel Temer em 2017, e também foi assunto no debate. Para Dante Moura, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), apesar de a expansão de matrículas em Ensino Profissionalizante ser essencial para ampliar as oportunidades educacionais dos jovens de todas as classes sociais, o itinerário formativo profissionalizante que pretende impulsionar esse oferta pode não ser efetivo, na opinião de Moura.

“Se uma unidade de ensino hoje tem um custo, ao passar a cinco itinerários, custará cinco vezes mais. Muitas cidades têm apenas uma escola de Ensino Médio, como oferecerão cinco opções?”, questionou. “Nosso problema maior é da ausência de condições materiais básicas, o que impede alcançar os resultados esperados das políticas educacionais”.

Em contrapartida, Felipe Morgado, gerente executivo de Educação Profissional e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), sustentou que é preciso insistir na melhoria, apesar dos muitos desafios. “É possível maximizar os resultados com a infraestrutura que temos, embora não seja suficiente. A articulação entre o Sesi, Senai e escolas estaduais pode permitir isso. Talvez não seja possível chega à taxa de 50%, como está previsto no Plano Nacional da Educação (PNE), mas é possível aumentar a oferta”.