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Educação nas Eleições: um debate acima de qualquer partido

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Quantas vezes você já não ouviu o termo “polarização” nas últimas semanas? Com a proximidade do primeiro turno das eleições, fica cada vez mais evidente a divisão política do Brasil. Para alguns especialistas, a alta rejeição a candidatos, a insatisfação com a corrupção e a própria polarização são elementos que formam um terreno fértil para um debate vazio de ideias.

“Tornar o processo eleitoral monotemático é desfavorável para a democracia e para as novas gerações. Estamos deixando de debater ideias que precisam ser amadurecidas, sobretudo na Educação nas eleições, uma área essencial para a economia”, afirma a doutora em Ciência Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Flávia Bozza Martins.

A falta de racionalidade aliada à força recente da pauta econômica empurram temas essenciais para o desenvolvimento do Brasil, como a Educação nas eleições, para segundo plano nos debates eleitorais. Na análise de Natália Aguiar, doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há dois fatores que contribuem para isso. “Os candidatos apoiam-se na economia e na corrupção porque imaginam que esses temas atraem mais a atenção da população. Além disso, muitas responsabilidades com relação à execução da Educação são dos estados e dos municípios, embora muito se fale na necessidade de integração entre os governos federal, estaduais e municipais”, analisa ela.

Os jovens: respostas para o futuro

Sendo os jovens a população mais próxima da realidade escolar, é de se esperar que eles utilizem o direito ao voto como um canal de reivindicação nas eleições. No entanto, Natália analisa que a juventude brasileira têm colocado suas pautas além da participação política tradicional. “Esses jovens procuram outras formas de participação, pela internet e por protestos, por exemplo. Jovens entre 16 e 17 anos reportam mais participação em protestos do que aqueles com idade entre 18 a 24”, avalia. A ocupação de escolas públicas pelos secundaristas em 2015 é um desses exemplos.

Essa análise é corroborada pelo que os próprios jovens pensam sobre as eleições. Segundo enquete realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) neste ano, 60% dos jovens entre 16 e 17 anos não se sentem representados pelos candidatos, mas ainda acreditam no voto (91%).

O sentimento de que eles próprios têm respostas para o futuro é grande, conforme indica levantamento do DataFolha. Entre os jovens de 16 a 25 anos, 29% têm interesse em disputar as eleições. Esse índice é quase o dobro da intenção manifestada pela população com mais de 41 anos. Flávia vê com bons olhos esse engajamento. “Se os jovens se afastarem, a política vai continuar, mas seguirá um caminho que vai deixá-los ainda mais descontentes. A entrada deles na política é um meio de arejamento”, afirma.

+++Conheça o “Juventudes pela Educação”, propostas para fortalecer a participação dos jovens na Educação

Democracia na prática

A construção de consensos não é algo fácil, requer prática e muito exercício do diálogo, garante Flávia. A especialista pontua que o fazer democrático ainda está em construção na população brasileira, pois 55,7% do eleitorado tem até 44 anos e só começou a votar em 1994 – isto é, um grande grupo não passou pelo desafio de construir as soluções agregadoras da redemocratização do País.

A chave é, portanto, a experiência. “A solução deve ser a prática democrática. O jovens têm de perceber que não há saída rumo a um caminho positivo por meio de agressões”, defende ela. E esse preparo para as divergências pode começar logo cedo, trazendo a democracia para os espaços educativos. A enquete feita pelo Unicef revela que a participação política dos jovens entre 16 e 17 anos na escola é realidade da minoria: quase 70% dos entrevistados dizem “não discutir” ou “discutir muito pouco” dentro da sala de aula.

Diante da polarização do debate, fortalecer o exercício da cidadania dos jovens é urgente, pois eles são a esperança a médio prazo, indica Flávia. “Eles são nativos digitais, conseguem identificar com mais facilidade as notícias falsas e têm maior capacidade de construir um conhecimento mais plural sobre a política, para além da TV”.

Eles também são um dos públicos mais dispostos a mudar de voto, segundo mostra pesquisa do Instituto Ibope em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para Flávia, isso mostra que há uma racionalidade maior entre os jovens. “Eles olham mais para a campanha como ela de fato é: um período de informação e educação nas eleições. Ver que as juventudes têm disposição em colocar dúvida sobre convicções mais rígidas dá esperança”, afirma.