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“Um bom nível educacional é o que vai nos levar para frente”, afirma Drauzio Varella em encontro online do Todos Pela Educação

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“Maior que a pandemia serão as sequelas por ela deixadas”. A frase do médico Drauzio Varella sintetiza o complexo desafio que se desenha a partir dos impactos da Covid-19: a reconstrução do País, olhando, sobretudo, para a população mais vulnerável. O oncologista, pesquisador e médico comprometido com a popularização de informações de Saúde foi um dos convidados do painel  “O papel da Educação na reconstrução do Brasil” do 5º e último dia do encontro online “A Educação Básica no novo cenário: adaptação e transformação”, realizado pelo Todos Pela Educação para colocar em perspectiva as mudanças necessárias no ensino frente à disseminação do novo coronavírus entre os dias 22 e 26 de junho.

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Mediado pela jornalista Aline Midlej, o encontro contou também com a ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora Marina Silva. Ambos destacaram o papel crucial da Educação no processo de reestruturação da vida cotidiana dos brasileiros e na busca pelo desenvolvimento sustentável da Nação. “A Educação de qualidade é compromisso ético, político. É capacidade técnica, uma escolha e uma decisão”, sentenciou Marina.

Além dos convidados, três especialistas enviaram perguntas referentes às mudanças que dialogam com a recuperação do País: o professor e pesquisador Fernando Abrucio, a professora e pesquisadora Marta Arretche e o economista Giovani Rocha (Veja os destaques do debate abaixo).

ASSISTA AO VÍDEO COMPLETO

Confira os destaques das falas dos participantes:

Marina Silva – professora, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora

“Todas as etapas da Educação Básica têm uma lógica de retroalimentação. Quando há prejuízo na base do ensino, como na Primeira Infância ou no Ensino Fundamental, as consequências serão presentes para o resto da vida.”

“Infelizmente, nós levamos muito tempo para entender que ao educar uma criança, economizamos em Saúde e segurança pública.”

“Responsabilidade fiscal é importante mas não podemos, em nome disso, prejudicar a Saúde, a Educação e fugir ao bom senso. É necessário fazer os investimentos públicos certos e gastar com eficiência, até porque uma pessoa bem formada, por exemplo, é mais produtiva. Um povo educado dá retorno para o País.”

“No Brasil, a escolha para a gestão de ministérios como o da Educação e o da Saúde é feita a partir de troca de partidos a cada eleição. Ou seja, os gestores dessas pastas estratégicas e importantíssimas para o País são políticos que não são escolhidos por competência ou por possuir um projeto consistente para as áreas.”

“Combater a estrutura que promove o racismo é bom para todo mundo, o os meios que são mobilizados para quem está na pior parte da pirâmide beneficia a todos. O Brasil que nós queremos reconstruir tem algumas coisas que queremos descontinuar, tirar a discriminação e incluir estruturalmente toda a nossa Nação.”

Drauzio Varella – médico oncologista e pesquisador

“Quem vai pagar a conta dessa situação serão os alunos mais pobres, pois as crianças das classes média e alta acessam aulas pela internet. Os mais pobres, por outro lado, têm um celular  ruim, que mal conseguem colocar carga ou pacote de dados. O cenário é de aumento de desigualdade social no Brasil.”

“A Educação no Brasil está ligada diretamente à exclusão social. Alguém que tenha o mínimo de noção do que é este País, que já tenha andado pelas periferias, não admite o discurso de meritocracia.”

“Estabelecemos, ainda na Primeira Infância, uma linha de partida diferente entre crianças pobres e mais ricas. Determinadas sinapses devem ser formadas nessa faixa etária sob condições ideais. Quando não se tem saneamento básico na região, por exemplo, as crianças têm mais infecções e o sistema imunológico delas mobilizará mais energia para combatê-las, o que fará falta na formação de conexões cerebrais. Ou seja, crianças expostas a cenários em que isso é frequente ficarão marcadas pelo resto da vida.”

“Saúde e Educação são a mesma coisa, pois aprender para proteger a Saúde e cuidar de próprio corpo. As criancinhas que vemos agora lavando tão bem as mãos o fazem porque aprenderam em algum lugar, Não há como ter uma população sem instrução que cuide da Saúde.”

“É fundamental um bom nível socioeconômico, um bom nível educacional, é isso que vai nos levar pra frente. Nós não podemos deixar para os nossos filhos, nossos netos, essa sociedade conformada, covarde, que diz ´é assim mesmo´. Não pode ser assim. Nós temos que mudar essa realidade.”

Aline Midlej – jornalista

“A construção de uma sociedade mais justa e plural passa pela revisão de nossos valores e olhares. O debate racial e educacional tem que estar presente.”

Fernando Abrucio – Professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

“A pandemia de Covid-19 escancarou a desigualdade social brasileira. O que conhecíamos em números e estudos ficou às claras para todos nós com o número impressionante de mortes, sobretudo entre os mais pobres, negros e pardos – as pessoas que vivem nas piores condições nas periferias brasileiras. E no meio de toda a fragilidade do Brasil, o que não permitiu que essa crise fosse maior foram estruturas estatais como o Sistema Único de Saúde (SUS).”

“A Educação vai precisar gastar mais porque o País vai precisar ser reconstruído e é impossível reconstruir sem ter Educação.”

Marta Arretche – professora titular do Departamento de Ciência Política da USP e diretora do Centro de Estudos da Metrópole

“O Brasil é um país muito grande, diverso, com desigualdades regionais muito marcantes – nas regiões Norte e Nordeste há maior concentração de escolas com desempenho abaixo da média em relação às outras regiões. A questão da qualidade educacional e do desempenho das escolas é muito importante para a reconstrução do Brasil e já era um grande desafio antes mesmo da pandemia.”

Giovani Rocha, economista e doutorando em Ciência Política na Universidade da Pensilvânia (EUA)

“O cenário de prestação dos serviços públicos no Brasil é marcado por um nível muito baixo de qualidade para a maior parte da população – evidentes nas taxas de abandono e evasão escolar, nível de aprendizagem, acesso a hospitais e à Saúde pública de qualidade. A população negra, especialmente jovens e mulheres negras, é a mais afetada. Em um cenário de pandemia, essas pessoas estão ainda mais vulneráveis e são as mais afetadas, porque vivem nas famílias que mais sofrem os impactos da crise.”


CONFIRA OS DEMAIS DEBATES DO ENCONTRO

4º dia – Tecnologia, valorização dos professores e financiamento mais justo

3º dia – A importância de um novo Fundeb no contexto da pandemia

2º dia – Os desafios da gestão pública no presente e futuro

1º dia – O impacto da Covid-19 no Brasil e no mundo