Concursos públicos para professores pouco medem habilidade de dar aula, aponta estudo
Análise feita pelo Todos Pela Educação em 23 Estados e 19 capitais aponta que apenas 3% das questões das provas objetivas avaliam conhecimentos sobre como ensinar conteúdos específicos; Provas práticas de seleção, por sua vez, são aplicadas somente em 4 redes estaduais e 5 redes municipais.
Os concursos públicos utilizados para selecionar professores da Educação Básica no Brasil têm dado pouca ênfase à avaliação da capacidade de ensinar. De acordo com estudo inédito, realizado pelo Todos Pela Educação, apenas 3% das questões das provas avaliam o chamado “Conhecimento Pedagógico de Conteúdo” (que tratam sobre o que e como ensinar os objetivos de aprendizagem dos currículos) – consideradas essenciais para a prática docente por avaliarem a aplicação do conteúdo em sala de aula.
Além disso, o levantamento mostra que apenas quatro redes estaduais e cinco redes municipais incluem, nos processos seletivos, provas práticas, que consistem na elaboração de planos e demonstrações de aulas, instrumentos capazes de avaliar de forma mais robusta as competências docentes.
A pesquisa analisou os concursos públicos mais recentes para selecionar professores dos Anos Finais do Ensino Fundamental, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, realizados por 23 redes estaduais e por 19 redes municipais das capitais. Ao todo, foram examinadas 76 provas de diferentes bancas e cerca de cinco mil questões objetivas. Os resultados mostram que a maioria das redes utiliza provas objetivas, discursivas e de títulos como instrumento de seleção.
Quando se observa a composição das provas objetivas, as questões que exploram temáticas relacionadas ao Conhecimento de Conteúdo – ou seja, os aspectos teóricos das disciplinas – predominam, tanto nas redes estaduais (66%) quanto nas municipais (70,2%). A análise também identificou outros temas cobrados nas provas objetivas: Conhecimento Pedagógico (cerca de 17%), Legislação (de 6% a 9%), Diversidade e Inclusão (de 2% a 3%) e História e Geografia locais (3% nas redes estaduais).
“Sem dúvidas, é importante que o professor domine o conteúdo que vai ensinar. No entanto, ainda mais importante que conhecer o conteúdo em profundidade é “saber ensinar”, ou seja, mobilizar as estratégias pedagógicas mais efetivas para ensinar os objetivos do currículo da rede, pois é essa competência que potencializa o aprendizado. Hoje, as provas de concursos são mais semelhantes ao que se cobra nos vestibulares, sendo que deveriam ter como foco avaliar de forma mais profunda a capacidade do docente de dar uma boa aula”, avalia Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação.
Para o Todos Pela Educação, o estudo destaca a importância de aprimorar os instrumentos de seleção, sendo um desafio a ser endereçado pelas redes estaduais e municipais, mas que pode contar com uma importante colaboração do Governo Federal.
“A criação de uma Prova Nacional de ingresso na carreira docente, anunciada de maneira preliminar pelo Ministério da Educação, pode ser um importantíssimo instrumento para melhorias desse cenário. Em primeiro lugar, porque é mais fácil produzir uma boa prova a nível central como primeira etapa dos concursos do que melhorar simultaneamente a qualidade de cinco mil provas. Além disso, as redes que aderissem à Prova Nacional, economizariam recursos que hoje gastam com as provas teóricas e poderiam focar em fazer avaliações práticas com os docentes. É uma medida relativamente simples, mas que pode ter grande efeito na qualidade da educação brasileira” explica Gontijo.