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Esquema Tático da Educação Brasileira: Por uma defesa eficiente!

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No começo da semana a gente falou sobre como o conhecimento dos esquemas táticos do futebol podem servir para entender melhor o funcionamento da Educação brasileira e o que falta para melhorar nosso desempenho nesse jogo. (Se você perdeu, vai lá que ainda dá tempo). Mas como abordamos apenas os pontos que precisam estar na linha de frente da nossa estratégia em Educação, chegou a hora recuarmos para o meio de campo, e revelar quem seriam os responsáveis por levar a bola da defesa ao ataque e, claro, falar também sobre a importância de defender este jogo tão importante. Afinal,  todo mundo sabe que não é só na ofensiva que se ganha a partida.

Vamos começar pelo meio-campo do time de políticas públicas da Educação. Ali está ele, o alicerce de tudo: o professor. Afinal, alguns pontos como a implementação da BNCC e o avanço na alfabetização não serão tirados do papel se não houver profissionais realmente preparados para a função. Apesar dessa certeza, amplamente amparada por estudos nacionais e internacionais, nossos time de professores não tem passado por “treinos” em situações reais de jogo (e a gente falou mais um pouco sobre isso aqui). Isto é, a formação desses profissionais não os está preparando para o trabalho em sala de aula e a consequência é um ensino que não conversa com os desejos e as novas identidades dos estudantes, muito menos com a inovação.

Como podemos fortalecer essa nossa vulnerabilidade? Um caminho é reformar os currículos dos cursos que formam professores (licenciaturas e Pedagogia) e definir quais habilidades são esperadas do docente que vai aplicar a BNCC. Da mesma forma que um meio-campista precisa dominar bem a bola para dar um bom passe, os professores têm de entrar em campo equipados com diferentes modos de ensinar. Outro ponto que é preciso ser trabalhado também é a remuneração. Ao contrário do que acontece em campo – onde os salários podem ser astronômicos – o docente continua desvalorizado quando o assunto é remuneração.

E já que entramos no assunto financeiro, é bom lembrar que um time só pode ir para frente se houver investimento. No caso da Educação, o financiamento é o último jogador da zaga, que dá segurança à defesa, destinando recursos conforme a necessidade dos estudantes e redes de ensino. Neste ponto, já evoluímos muito quanto à quantidade e qualidade de recursos que colocamos no nosso time educacional, mas ainda é possível fazer muito mais e melhorar nosso esquema tático. Além de ampliarmos os recursos investidos por aluno na Educação Básica, é preciso aperfeiçoar a gestão e tornar os mecanismos de financiamento muito mais eficientes. O Fundeb, fundo que financia a Educação, reduziu a desigualdade do financiamento ao redistribuir melhor as verbas, mas ainda dá pra aprimorar: tornar essa política permanente é um exemplo disso. Outro grande reforço para essa defesa seria reformular regras de redistribuição de impostos, como o ICMS, condicionando parte do repasse aos resultados na Educação, para incentivar politicamente melhorias na aprendizagem.

Para ajudar na organização e deixar essa zaga muito mais eficiente, nossa Educação conta ainda com uma retaguarda formada pelo o sistema educacional (governança) e gestão das redes (secretários e ministro).Eles cuidam de estabelecer quem se responsabiliza quando surge um problema e como ele pode ser solucionado. Para que desempenhem ainda melhor esse papel, falta um Sistema Nacional de Educação que defina rotas de ajuda quando um dos entes precisar de apoio financeiro ou administrativo. Aplicar princípios de governança e gestão é como uma defesa em sincronia, que sabe o que fazer para impedir o avanço do adversário, no caso da Educação, a baixa qualidade e falta de equidade.

Por fim, chegamos ao jogador mais recuado em campo, mas que precisa de cuidados e concentração, pois a derrota seria iminente sem sua atenção: a Primeira Infância (0 aos 6 anos), que precisa ser saudável para todas as crianças, a fim de que possamos combater a desigualdade educacional. Esse nosso goleiro precisa de uma política nacional que vá além das creches e pré-escolas, e integre as áreas de saúde, assistência social, cultura e esporte. Nossas crianças precisam desse pontapé inicial para que possamos reverter esse placar e conquistar o campeonato da qualidade e equidade ano após ano.