3 desafios e 3 dicas para os professores iniciantes
“Eu gostaria de ter ouvido histórias que hoje tenho para contar. Meus professores falavam apenas da teoria e não tinham experiência com a escola pública. Acho que tive pouca informação sobre essa realidade”. A fala do professor de matemática Alexandre Henrique Campos, de Uberlândia (MG), sintetiza a sensação de muitos professores iniciantes da carreira no ensino público brasileiro. Tal angústia aparece porque, infelizmente, a formação do professor não dialoga com o cotidiano da sala de aula. E as dificuldades, quando começam a aparecer, são muitas.
O Todos ouviu professores iniciantes de diversos lugares do Brasil para saber quais os maiores desafios que eles enfrentaram em seus primeiros anos na docência. Abaixo, listamos três deles.
1. Violência
Durante sua formação, a professora de português Isabel Lisboa lecionou no ensino público por meio do estágio no programa do governo cearense Mais Alfabetização. Mas é agora, nos três primeiros anos da carreira, que ela precisa lidar com situações de violência que dificultam seu trabalho. “É um cenário muito presente na escola e os profissionais da Educação não são preparados para isso”, conta. Ela atua em três escolas públicas de Fortaleza.
A situação não é diferente para o professor Alexandre. Em quatro meses na Escola Municipal Afrânio Rodrigues da Cunha, em Uberlândia, ele diz já ter recolhido, dentro da escola, uma réplica de arma e cigarros, além de ter separado briga de alunos durante a aula. “Eu não devia encostar no aluno, mas tive que agir. Além de tentar dar aula, eu preciso controlar os alunos e resolver muitos conflitos”, conta.
2. Defasagem
Este ano, quando chegou à escola para lecionar aos alunos do Ensino Fundamental II, Alexandre encontrou classes de 8º ano que não tiveram professor fixo de matemática durante todo o ano 2017. Isso significa que eles não tinham o aprendizado adequado ao ano e que, portanto, ele não poderia lecionar os conteúdos previstos sem, antes, resgatar matérias anteriores. “Em vez de reclamar que eles não têm base, eu estou tentando resolver o problema”, explica o professor.
3. Motivação
Já no cotidiano da Escola Estadual Edgar Guedes, em Pedra de Fogo (PB), o professor de filosofia Lenilson Silva enfrentou a falta de motivação dos outros docentes, que ocorre por inúmeros fatores – questões que vão do cotidiano escolar à falta de uma carreira estruturada e valorizada, por exemplo. “Há um problema de valorização do salário docente e acho que isso desmotiva alguns professores”, afirma.
Ele conta que se motiva sempre que pensa na importância da Educação para vida dos seus alunos. “O que faço é me especializar na profissão e realizar projetos dentro da escola que incentivem os alunos”, explica. As iniciativas dele nesse sentido vão desde a publicação de livros com antologia de textos dos estudantes à atividades que trazem pais e avós para contação de lendas familiares, por exemplo.
Por terem passado por essas dificuldades, os professores iniciantes ouvidos pelo Todos destacam três dicas que eles consideram importantes para qualquer docente em seus primeiros anos da carreira.
1 – Mostre aos alunos que eles importam
Parece óbvio, mas criar um relacionamento saudável com os alunos é fundamental. O professor Lenilson explica que faz questão de ter atitudes simples no dia a dia, como cumprimentar seus estudantes. “Todo início de aula eu vou de carteira em carteira perguntar como eles estão. Fora de sala, sempre converso com eles sobre o que eles precisarem.”
Em Uberlândia, Alexandre conquistou o bom relacionamento com uma classe de 8º ano ao ter que ensinar o conteúdo de anos anteriores. “Não culpei a turma, mas deixei claro que me preocupava com o aprendizado deles. Depois disso, eles mudaram o comportamento e agora se dedicam aos estudos”.
Importar-se com os sonhos dos alunos também é importante. Em outra turma, Alexandre parou duas aulas para perguntar a cada estudante qual o projeto de vida. “Com 13 anos, muitos não sabiam o que era faculdade. Expliquei a cada um o caminho para chegar onde queriam. Foi um jeito de evitar que pensassem que só falava que é importante estudar sem explicar o porquê. Senti que valeu a pena mostrar minha preocupação”.
2 – Saiba equilibrar atividades lúdicas e conteúdo
Alexandre conta que nem sempre é possível aplicar todos os métodos de ensino aprendidos na graduação. Um dos projetos que ele desenvolve desde a faculdade é a montagem de cubos mágicos com alunos do 6º ano. Mas ele diz ser necessário saber equilibrar essas atividades com o conteúdo obrigatório. “É ótimo trazer uma atividade lúdica, com intenção pedagógica”, explica.
3 – Os professores iniciantes devem conversar com os mais experientes
Alguns aspectos do trabalho de professor só são dominados com o tempo. Os conselhos de professores mais experientes podem prevenir erros. Para Alexandre, a maioria das orientações se provaram verdadeiras. “Já fui avisado das atividades que dão certo e aquelas que dão errado. Já mudei de atividade porque aquilo que, na minha cabeça dá certo, eles avisam que não funciona”, conta.
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